Crítica Bimensal

Espaço de crítica além do contemporâneo, mas fiel ao português.

Partilharemos duas críticas por mês de livros à nossa escolha.

SINOPSE

Nesta obra, Eça tem uma visão muito pessoal dos países orientais e da antiguidade.
A sua imaginação volta a trabalhar para nos oferecer, com a sua fina ironia, uma obra rica de análise psicológica (pois retrata magistralmente o remorso) e com alguns momentos de descrição sugestiva nos sonhos de opulência do Teodoro, na sua quimérica viagem à China. É uma obra que pertence ao sonho, não à realidade, mas que caracteriza fielmente a tendência mais natural, mais espontânea do espírito português.

CRÍTICA

Apesar de simples, o génio de Eça de Queiroz é evidente n’O Mandarim. É um livro pequeno, fantástico no género, que concentra em si os aspectos que nos remetem prontamente à obra de Eça de Queiroz. A sua escrita recheada de vocabulário diversificado é o par perfeito do simples mas aliciante enredo e, neste baile maravilhoso, Eça de Queiroz coloca-nos – mais uma vez – diante de temas realistas, como o materialismo e o objetivismo, e de temas que dizem respeito à natureza humana enquanto ser social obcecado por uma estrutura de classes. Adicionalmente, estabelece a filosófica, diria eu, dicotomia ‘tranquilidade na simplicidade/desconcerto na extravagância.’
O Mandarim mostra-nos, assim, um homem que opta pelo caminho fácil, mas que é consumido pelo remorso. É uma história de ganância traiçoeira e arrependimento sofrido. Uma pequena história fantástica, em ambos os sentidos, que nos guia a uma reflexão interessante acerca de nós e dos outros.

Inês Morais

SOBRE O AUTOR

Eça de Queiroz nasceu a 25 de novembro de 1845 na Póvoa de Varzim e é considerado um dos maiores romancistas de toda a literatura portuguesa, o primeiro e principal escritor realista português, renovador profundo e perspicaz da nossa prosa literária.
Entrou para o Curso de Direito em 1861, em Coimbra, onde conviveu com muitos dos futuros representantes da Geração de 70. Terminado o curso, fundou o jornal , em 1866, órgão no qual iniciou a sua experiência jornalística. Em 1871, proferiu a conferência «O Realismo como nova expressão da Arte», integrada nas Conferências do Casino Lisbonense e produto da evolução estética que o encaminha no sentido do Realismo-Naturalismo de Flaubert e Zola. No mesmo ano iniciou, com Ramalho Ortigão, a publicação de As Farpas, crónicas satíricas de inquérito à vida portuguesa.
Em 1872, iniciou a sua carreira diplomática, ao longo da qual ocupou o cargo de cônsul em Havana, Newcastle, Bristol e Paris. Foi, pois, com o distanciamento crítico que a experiência de vida no estrangeiro lhe permitiu que concebeu a maior parte da sua obra romanesca, consagrada à crítica da vida social portuguesa e de onde se destacam O Primo BazilioO Crime do Padre AmaroA Relíquia e Os Maias, este último considerado a sua obra-prima. Morreu a 16 de agosto de 1900, em Paris.

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