Correntes / Patrícia Morais

Sinopse

«Quando as crianças começam a desaparecer numa cidade piscatória, Ada Hughes teme pela segurança dos seus dois irmãos mais novos. Tide Springs nunca foi realmente segura para eles, mas ela tem um plano para escapar ao seu ambiente familiar tóxico. (…) Enquanto luta contra a sua própria solidão e ignora o seu amor proibido, Ada enfrenta mais uma reviravolta inesperada. Será ela capaz de enfrentar este novo mundo enquanto é confrontada com os segredos da sua cidade.»

Crítica

Mundo de Sombras é uma série Young Adult de fantasia urbana sobre uma organização de caçadores de demónios, a Diabolus Venator, criada pela autora Patrícia Morais. A série consiste, até agora, por dois romances, ‘Sombras’ e ‘Chamas’, a que se deverão seguir ‘Cinzas’, um conto chamado ‘Um Natal Assombrado’, e a novela ‘Correntes’, uma prequela que explora o passado da personagem Ada Hughes e explica como ela se tornou numa venatori. Órfã de mãe, Ada é uma jovem de Tide Springs que se dedica a cuidar dos irmãos mais novos e a protegê-los do temperamento irascível do pai, ao mesmo tempo que reprime uma paixão proibida. A chegada de dois desconhecidos à pequena aldeia piscatória e um acontecimento aparentemente sobrenatural irá arrancá-la do seu pesadelo neo-realista e atirá-la para um mundo de criaturas fantásticas, mudando a sua vida para sempre. ‘Correntes’ é uma novela que se lê com facilidade, tendo a virtude de evitar alguns tropos comuns neste tipo de literatura, e tanto pode servir de aperitivo para quem ainda não leu ‘Sombras’ e ‘Chamas’, como também de paliativo para quem aguarda com expectativa o próximo volume da série.

Sobre a autora

Patricia Morais é licenciada em Tradução e Desenvolvimento Internacional. Actualmente trabalha em consultoria de comunicações para projectos da União Europeia. É a autora do seu memoir de Kung-Fu, ‘Crónicas de Shaolin’, dos livros de ficção sobrenatural ‘Sombras’ e ‘Chamas’, e uma das co-autoras da antologia paranormal, ‘Os Monstros Que Nos Habitam’. A sua paixão pela viagem e o conhecimento de diversas culturas, levou-a a viver em vários países e a passar de mochila às costas por outros. Em 2016, viajou até à China para estudar Kung-Fu a tempo inteiro numa academia de artes marciais tradicionais, no meio das montanhas.

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Laura e o Rei das Sombras / Bruno Martins Soares

SINOPSE

«A Humanidade está a morrer. Grande parte da população vive em ambiente selvagem como animais psicóticos, destruídos por uma doença aparentemente incurável. J. J. Berger e a sua Equipa Sombra defendem sem tréguas os últimos resquícios da Democracia e da Civilização, ameaçados por forças totalitárias vindas do Leste – estará a sua causa perdida? Nas planícies do sul da Península Ibérica surge uma centelha de esperança quando uma menina e a sua mãe escapam aos brutais captores em direcção ao frágil veio de civilização que ainda se mantém a oeste. Berger e a sua equipa de Forças Especiais irão combater gangues organizados, hordas de doentes e misteriosos bombistas suicidas. Mas talvez a pequena Laura e a sua mãe tragam as respostas que tanto têm procurado.»

CRÍTICA

(Disclaimer: a versão adquirida, lida e de que aqui se faz a resenha, é a versão em inglês, dividida em dois volumes, disponível na Amazon em https://amzn.to/3qWnREM sendo que a edição em português foi lançada num único volume pela Editorial Divergência a 7 de Novembro de 2021.)

Em Laura e o Rei das Sombras, um thriller de ficção científica de vertente militarista, somos transportados para um mundo pós-Colapso, onde uma doença transforma os seres humanos em «animais» psicóticos, ao mesmo tempo que uma guerra por território e recursos opõe dois blocos inimigos, trazendo ainda mais devastação ao quotidiano dos sobreviventes. Ao longo da narrativa, seguimos as operações da Equipa Sombra, liderada por J.J. Berger, a.k.a. o Rei, e a fuga desesperada Europa fora de uma mãe, Maria, e da sua filha, Laura, desenrolando-se a acção entre Espanha e Portugal.
Logo no início, o autor fornece-nos um glossário, já que os membros da Equipa Sombra comunicam entre si fazendo uso de jargão militar em abundância, o qual talvez não faça muita falta a quem está habituado a este tipo de ficção, mas que facilita bastante a leitura aos demais. Ainda assim, à medida que nos embrenhamos na história, as consultas ao glossário tornam-se mais esporádicas.
A caracterização dos «infectados» mais como primatas agressivos do que propriamente mortos-vivos, pese embora as muitas semelhanças, é apenas um entre muitos detalhes que torna esta obra diferente. O relacionamento terno entre a mãe e a filha, bem como os laços de camaradagem entre os operacionais, são-nos apresentados de forma credível e subtil.
As descrições dos intensos combates entre as facções inimigas, especialmente no clímax, são tão vívidas e pormenorizadas que podem, suspeito, causar Stress Pós-Traumático a quem não esteja habituado a ler este tipo de histórias, e flashbacks a quem tenha passado por este tipo de situações.

António Bizarro

SOBRE O AUTOR

Bruno Martins Soares ganhou o Prémio Nacional de Jovens Criadores na vertente de Literatura, tendo representado Portugal na Feira de Jovens Criadores da Europa e do Mediterrâneo em Turim em 1997, com o seu conto Mindsweeper. A partir de 2009, começou a publicar a trilogia A Saga de Alex 9 pela editora Saída de Emergência. Entretanto, já publicou vários outros livros e contos, tanto em português como em inglês, incluindo o romance A Batalha da Escuridão, publicado pela Editorial Divergência e vencedor do Grande Prémio Adamastor do Fantástico 2019.
Em 2013, co-escreveu e co-produziu a longa-metragem Regret, da produtora Castaway Entertainment, com distribuição nos E.U.A. e Canadá. Entre 2015 e 2021, escreveu e co-escreveu vários argumentos produzidos para televisão, cinema e animação.
Foi formador de Escrita Narrativa e Escrita de Argumentos em várias escolas como a Act4All e a Restart. Como jornalista, escreveu para o Diário de Notícias, para a Ideias & Negócios, foi correspondente em Portugal da Janes Defense Weekly, a maior revista do mundo de defesa militar, e já colaborou com The Washington Post.

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Projecto: MOTHER / Mónica Cunha

SINOPSE

“Num futuro longínquo, uma humana combate contra uma verdadeira IA pelo direito à emancipação.”

CRÍTICA

Conto vencedor do Prémio Ataegina 2020, atribuído pela Imaginauta e The Portuguese Portal of Fantasy and Science Fiction, numa edição bilingue (português e inglês). Um grito de Ipiranga futurista e cyberpunk que tem como protagonista Yeside, uma intrépida hacker que esgrime argumentos com MOTHER, uma IA avançada que controla todos os aspectos da vida humana – incluindo a reprodução – em conjunto com as SISTERS. Os filhos de LILLITH procuram alcançar a liberdade que lhes foi tirada, mesmo que essa liberdade acarrete consequências nefastas, consequências essas que, ironicamente, levaram à criação dos sofisticados sistemas de Inteligência Artificial e condenaram os seres humanos a viverem as suas existências numa espécie de gaiola dourada, perfeita e optimizada, mas que não deixa espaço para o erro e o crescimento.

António Bizarro

SOBRE A AUTORA

Mónica Cunha, vencedora do Prémio Ataegina 2020.

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Eroticontos

CRÍTICA

Fruto de uma iniciativa independente dos booktubes Books, Less Beer & a Baby, Livros à Lareira com chá e Mil e Duas Páginas e a discográfica Enough Records, este trabalho é um exemplo das qualidades, que estão como que escondidas ou esquecidas, das mentes contemporâneas que levam a cabo movimentos independentes.
Dividida em oito contos, a antologia consegue ser apelativa pelos diferentes registos que apresenta. Se, por um lado, temos os contos de André Coelho e Carla Santiago que, apesar de em línguas diferentes (português e inglês, respectivamente), nos remetem mais diretamente para a temática erótica através de descrições ritmadas e detalhadas, por outro temos, a acrescentar à face erótica, a vertente que roça o fantástico, nos surpreendentes contos de António Bizarro e Filipe Cruz. Além disso, temos os curtos e apenas aparentemente diretos versos de Fernando Ferreira, a admirável criatividade de António Boeiro e a beleza e profundidade das construções de Ana Carina Paulino.
É uma antologia para diferentes gostos, dentro de um mesmo tema, e, por isso e mais, uma agradável e, acima de tudo, recomendável leitura, até para aqueles que prontamente se excluem do grupo de admiradores da escrita erótica.

Inês Morais

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A Arca / Joel G. Gomes

SINOPSE

A ARCA: Um conto de horror sobre aceitar o que não se pode mudar e
responsabilidades às quais não se pode fugir (O Mal Humano – Temporada 0).

CRÍTICA

“O Mal Humano” é uma ambiciosa série literária do autor dos romances Um
Cappuccino Vermelho
e A Imagem, e este é o episódio de arranque, um conto que lida com a perda, o sentido de dever e as consequências (não desprovidas de ironia) advindas da obtenção daquilo que mais desejamos.
Os dois personagens principais, Rui Alves e Valter Braz, têm em comum a dor e a saudade, as quais acabam por lhes toldar a razão e levá-los a quebrar regras que não devem ser quebradas e a sofrer as consequências.
Tendo como cenário de fundo as ruelas do Barreiro Velho, entre o metal da Vinícola e o house do DNA, a história gira à volta de um objecto comum com propriedades especiais, uma premissa que me fez lembrar a saudosa Twilight Zone, no sentido em que não nos é fornecida uma explicação para a sobrenaturalidade, nem esta é sequer necessária para a compreensão da narrativa apresentada.
Uma excelente e intrigante porta de entrada para o prolífico universo de Joel G. Gomes, que também assina histórias como Ricardo L. Neves e João Dias Martins.

António Bizarro

SOBRE O AUTOR

“Nasci num mês de Fevereiro do século XX e à partida irei falecer no século XXI. Até lá gostaria de escrever tantas histórias quanto possível. Mesmo que não sejam todas excelentes, ou mesmo razoáveis, o importante é continuar. Neste momento estou concentrado na série literária O MAL HUMANO, um projecto ambicioso que acompanha o dia a dia de uma força policial dedicada à investigação de crimes macabros e sobrenaturais. Todavia, sempre que a inspiração assim o obrigue, outras histórias serão escritas. Para saber mais detalhes sobre os meus vários projectos visite http://joelggomes.com.”

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O Último Extraterrestre / Jorge Borbinha

SINOPSE

“Conto vencedor do Prémio Ataegina 2019, atribuído pela Imaginauta The Portuguese Portal of Fantasy and Science Fiction.
Uma história de ódio e violência, um grito desesperado do Último Extraterrestre que nos obriga a rever o valor intrínseco da espécie Humana.”

CRÍTICA

Vencedor do Prémio Ataegina 2019, prémio atribuído pela Imaginauta e por The Portuguese Portal of Fantasy and Science Fiction, e editado pela Imaginauta, este intenso e imaginativo conto de Jorge Borbinha transporta-nos até um futuro distante em que a Humanidade conseguiu expandir-se muito para além dos limites da Terra, estabelecendo colónias em inúmeros sistemas planetários. Uma equipa multidisciplinar aterra em Astrodia e descobre vestígios de uma espécie indígena bípede que outrora habitava numa rede de túneis subterrâneos, desencadeando uma crise de consciência num xenólogo inexperiente e idealista. Como na melhor ficção científica, este é um conto que levanta questões interessantes que nos remetem para o colonialismo e a conservação ecológica. Uma leitura rápida que nos deixa a pensar e a desejar ler mais deste autor. Notável também a composição da capa.  

António Bizarro

SOBRE O AUTOR

Jorge Borbinha, vencedor do Prémio Ataegina 2019.

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Azul Instantâneo / Pedro Vale

SINOPSE

Azul Instantâneo é o primeiro livro de Pedro Vale. A leitura sempre esteve presente na sua vida, mas “a escrita surgiu de uma forma espontânea, através do Facebook. Era nesta rede social que Pedro Vale escrevia directamente, sem passar para o papel, os textos que produzia. Então, entre março de 2016 e setembro deste ano, decidiu recolher tudo aquilo que escreveu e depois, em três meses, esteve “a trabalhá-los até dar origem ao livro”. O autor garante que “não há um fio condutor, não há um tema”, contudo, “há um sentimento, uma espécie de mensagem que é também preciso ler e reler algumas vezes para entrar no universo do livro”. “Acaba por ser um apelo às sensações das pessoas”. Segundo Pedro Vale, o livro “é também um bocadinho autobiográfico”.

CRÍTICA

O primeiro pensamento que salta, com entusiasmo, após a leitura de Azul Instantâneo é o de que este é um livro que se destaca. Com o intuito de nos levar numa viagem pela sua mente (invadida pelo azul do sonho, suspeito), Pedro Vale constrói este livro, composto por fragmentos tão diversos e distintos, oscilando entre o sombrio e o celeste, que nos revelam, na perfeição, a multipolaridade da caneta do autor. Encontramos desde caligramas criativos — e, sobretudo, misteriosos — e poemas corridos que remetem vaga, mas imediatamente, para Lydia Davis até poemas de temáticas com as quais o leitor se identifica facilmente e outros abstractos, levemente tangíveis, que parecem deixar tanto por explicar.
É uma composição coberta de camadas que podem ser perfuradas, como o autor diz, através da re-leitura — re-leitura esta que vale, sem sombra de dúvida, a pena.

Inês Morais

SOBRE O AUTOR

Pedro Vale é professor do 1º ciclo, tendo frequentado o curso de Ciências da Cultura, na Universidade da Madeira. Com 38 anos de idade, há 15 que se mudou para a Madeira, mas, sempre que possível, regressa a Moreira de Cónegos, de onde é natural.
A leitura sempre esteve presente na sua vida, mas “a escrita surgiu de uma forma espontânea, através do Facebook.

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(por encomenda ao autor)

Cair Para Dentro / Valério Romão

SINOPSE

Cair para Dentro narra a história de duas mulheres, Virgínia e Eugénia, unidas pela relação mãe-filha.
Eugénia, a filha, não foi educada para ser um adulto independente e, embora seja professora universitária, a mãe controla o seu dinheiro, o seu tempo, proibindo-a até de ter telemóvel. Quando Virgínia começa a desenvolver sintomas de demência, Eugénia vê-se obrigada, deixando aquela infância artificial construída pela sua mãe, a crescer e a cuidar de todos os aspectos práticos da vida de ambas. Até descobrir que, no estado em que a mãe se encontra, a vingança é uma possibilidade.
Cair para Dentro explora até ao limite as dificuldades das relações humanas e os dilemas morais que delas decorrem.

CRÍTICA

Não se pode falar de Cair Para Dentro, de Valério Romão, sem referir a sua trilogia «Paternidades Falhadas», iniciada com Autismo, continuada com O Da Joana e encerrada com o presente volume.
No primeiro livro, a narrativa gira em torno de um casal a braços com a crescente aceitação (que passa por vários estágios de negação) de que o filho é autista; com a acção presente centrada nas urgências de um hospital, acompanhamos a jornada deste casal através de flashbacks e diferentes pontos de vista; a revelação final é um verdadeiro pontapé nos testículos, pouco habitual na ficção portuguesa.
Em O Da Joana, e à semelhança do conto À Medida que Fomos Recuperando a Mãe (publicado primeiro na Granta, mais tarde reunido no livro de contos Da Família), a narrativa em vários planos, por vezes tergiversante, mais saramaguiana que muitas dos seus herdeiros, desemboca num final digno de Cronenberg e do seu body horror, mais presente no livro do que no conto, onde é mais subtil e mais reminiscente do M. Butterfly do que, por exemplo, do Dead Ringers; não deixa de ser, ainda assim, um proverbial murro no estômago e um desenlace de uma visceralidade e violência raras na literatura portuguesa.
O Cair Para Dentro do título refere-se à gradual descida no abismo da demência por parte de Virgínia, uma mãe autoritária e castradora, cuja filha, Eugénia, é uma mulher aparentemente funcional e bem-sucedida a nível académico, mas que se vê impossibilitada (pela progenitora) de controlar o seu próprio tempo e o seu próprio dinheiro e, consequentemente, a sua própria vida . Pontuado pela poesia de vários autores contemporâneos portugueses, vamos assistindo ao progressivo ruir da prisão invisível em que Eugénia vive, à medida que a lucidez vai fugindo a Virgínia, e a uma inversão de poder que nos deixa, ao mesmo tempo, desconfortáveis e expectantes.
Embora não seja estritamente necessário ler os livros que compõem esta trilogia na ordem em que foram publicados ( ou sequer ler os primeiros volumes antes deste), o facto de encontrarmos referências a personagens dos livros anteriores neste Cair Para Dentro oferece-nos um sentido de unidade e de full circle mais satisfatório do que se mergulharmos de imediato na leitura desta obra. 

António Bizarro

SOBRE O AUTOR

Nasceu em França, em 1974. Foi três vezes seleccionado no concurso nacional Jovens criadores (2000, 2001, 2002), duas em prosa, uma em poesia. Foi o representante português da área de literatura na Bienal de Jovens Criadores da Europa e do Mediterrâneo, em 2001, na Bósnia-Herzegovina.
Na Faculdade, cursou Filosofia, área em que se licenciou. Tem escrito contos (o relojoeiro contorcionista, revista Magma; Facas na Cidade, revista Construções Portuárias), peças de teatro (Octólogo, TUP; Posse, Trindade; A Mala, CCB/Boxnova), feito traduções (V. Woolf, S. Becket) e tem colaborado com diversos artistas nacionais na definição de núcleos de sentido em peças multidisciplinares (moments of being; Beatriz Cantinho e Ricardo Jacinto; Peça Veloz Corpo Volátil; Beatriz Cantinho).

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Quem disser o contrário é porque tem razão / Mário de Carvalho

SINOPSE

Ser escritor. O texto ficcional. Dilemas, enigmas e perplexidades do ofício. No vale das contrariedades. Nada do que parece é. O «assertivismo» é um charlatanismo. A valsa dança-se aos pares: escrita e leitura, autor e leitor, personagem e acção, causalidade e verosimilhança, contar e mostrar, o dentro e o fora, a superfície e o fundo. O bico-de-obra do primeiro livro. Por onde começar? Com que começar? Com quem começar? A manutenção do interesse. Não há regra sem senão; não há bela sem razão. Ou o oposto. Riscos, cautelas e relutâncias.

CRÍTICA

Este bem-humorado e acessível livro do mestre Mário de Carvalho é, como apregoa a sua capa, um guia prático de escrita de ficção, mas não só; é também um interessante guia de leitura – ou leituras – e destina-se tanto a escritores, ou aspirantes a, como a leitores dispostos a ler melhor. Socorrendo-se de exemplos da literatura universal, de Saramago a Shakespeare, passando por Machado de Assis, os clássicos gregos e Jorge Luís Borges, Mário de Carvalho explica conceitos como o cliffhanging, o pacto ficcional, a suspensão da descrença ou deus ex machina, listando as regras essenciais para uma escrita segura, ao mesmo tempo que mostra o modo como certos autores quebram essas mesmas regras com genialidade e engenho. No final é citado o Gargântua, de Rabelais, cuja utópica Abadia de Thélème ostenta o lema «Fay ce que voudras» (que inspiraria Aleister Crowley e o seu «Do what thou wilt»): faz o que quiseres. Pois «não há regra sem senão; não há bela sem razão. Ou o oposto.»

António Bizarro

SOBRE O AUTOR

Mário de Carvalho nasceu em Lisboa em 1944. Licenciou-se em Direito e viu o serviço militar interrompido pela prisão. Desde muito cedo ligado aos meios da resistência contra o salazarismo, foi condenado a dois anos de cadeia, tendo de se exilar após cumprir a maior parte da pena. Depois da Revolução dos Cravos, em que se envolveu intensamente, exerceu advocacia em Lisboa. O seu primeiro livro, Contos da Sétima Esfera, causou surpresa pelo inesperado da abordagem ficcional e pela peculiar atmosfera, entre o maravilhoso e o fantástico.
Desde então, tem praticado diversos géneros literários – romance, novela, conto, ensaio e teatro –, percorrendo várias épocas e ambientes, sempre em edições sucessivas. Utiliza uma multiforme mudança de registos, que tanto pode moldar uma narrativa histórica como um romance de actualidade; um tema dolente e sombrio como uma sátira viva e certeira; uma escrita cadenciada e medida como a pulsão duma prosa endiabrada e surpreendente.
Nas diversas modalidades de Romance, Conto e Teatro, foram atribuídos a Mário de Carvalho os prémios literários portugueses mais prestigiados (designadamente os Grandes Prémios de Romance, Conto e Teatro da APE, o prémio do Pen Clube e o prémio internacional Pégaso). Os seus livros encontram-se traduzidos em várias línguas.
Obras como Os AlferesA Inaudita Guerra da Avenida Gago CoutinhoUm Deus Passeando pela Brisa da TardeO Varandim seguido de Ocaso em CarvangelA Liberdade de Pátio ou Ronda das Mil Belas em Frol são a comprovação dessa extrema versatilidade.

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Outubro Negro / Catarina Janeiro

SINOPSE

“Quem com fogo mata, com fogo morre.”

Albano é um homem reservado, médico num hospital psiquiátrico, e é na sua profissão que tem focado todas as suas energias e expectativas ao longo dos últimos 24 anos. Disciplinado e racional por natureza, encerrou dentro de si as tragédias que marcaram a sua vida.
A morte do seu melhor amigo, Augusto, num tempestuoso dia de Outubro, seguida da morte da sua única namorada, roubaram-lhe o fim da adolescência e moldaram a sua vida futura.
Repetições de um passado negro, marcado pela morte e vingança e há muito esquecido, obrigam Albano a recordar a altura mais difícil da sua vida. Acontecimentos bizarros e inexplicáveis obrigam-no a confrontar o real e o sobrenatural, o bem e o mal, o seu presente e o seu passado.

CRÍTICA

Outubro Negro é um thriller psicológico que beneficia grandemente da formação em Psicologia, bem como do seu exercício profissional por parte da autora. É, porém, quando a história diverge, levando-nos para o reino do sobrenatural, que se revela a veia de ficcionista de Catarina Janeiro, com uma escrita segura que nos apresenta uma trama bem construída, entretecida com analepses que ajudam a caracterizar as personagens e a marcar o tom (negro) da obra, sem resvalar para o pastiche ou o cliché, algo demasiado frequente neste tipo de livros. Tal como em inúmeras histórias de banda desenhada, Albano e Augusto começam por ser melhores amigos, até que se dá a ruptura e a amizade dá lugar a uma rivalidade que transcende as leis da natureza. Balizando-me nas minhas leituras, Augusto trouxe-me à memória outra personagem memorável, Heathcliff, de ‘O Monte dos Vendavais’, pela sua obstinação e orgulho, e pela sua obsessão encarniçada que ultrapassa a fronteira entre a vida e a morte. Um livro excelente, para ser lido em qualquer altura do ano, não obstante o título.

António Bizarro

SOBRE A AUTORA

Catarina Janeiro nasceu a 10 de Outubro de 1979, em Abrantes e à luz de vela, por causa de uma forte tempestade. Desde cedo que a necessidade da escrita se impôs mas foi a Psicologia que escolheu como área de estudo e trabalho. Licenciou-se em Psicologia pela Universidade de Lisboa em 2002 e exerce essa profissão desde então. A diversidade emocional e o poder da relação que o ser humano tem a capacidade de estabelecer mantêm-na intrigada até hoje e é sobretudo nesses pressupostos que se baseia a sua escrita ficcional.

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